segunda-feira, 19 de outubro de 2009

As aparências enganam

As corporações, principalmente as grandes, de fato conquistaram muito poder em relação a definição de regras de mercado e influência política, deixando o Estado em segundo plano. Se o governo não se submete as suas exigências, as multinacionais ameaçam deixar o país, não investir, demitir funcionários, entre outras ações que são colocadas como prejudiciais à sociedade. Esta é a síntese do contexto atual do capitalismo global e que se acompanha diariamente na mídia sem qualquer estranheza.

No entanto, as corporações ainda dependem de seus consumidores para terem lucratividade e sobreviverem no mercado global, marcado por uma concorrência acirrada e por uma corrida por descobertas de novas tecnologias, que dêem origem a novos produtos ou otimizem os processos de produção, aumentando o lucro e a abrangência no mercado de consumo e reduzindo mão-de-obra.

Qualquer coisa vale para motivar as pessoas consumirem mais ou criar necessidade para novos produtos, não há regras. Entre as muitas ações, está a de manipulação da opinião pública para conquistar uma imagem positiva no mercado, que agrega valor a marca e garante algum sucesso em fidelizar o consumidor e estimula-o a escolher determinado produto em detrimento de tantos outros com a mesma qualidade e preço. Neste contexto, ser uma empresa com o título de responsável socialmente é muito positivo aos olhos dos consumidores e representa um diferencial.

As pessoas tomam conhecimento que uma empresa possui responsabilidade social principalmente pela mídia, por meio de propaganda ou jornalisticamente. Neste ponto surge um problema, pois claramente percebe-se a falta de critérios claros e estabelecidos para se afirmar que uma corporação é responsável socialmente. Muitas vezes basta apenas um release da assessoria ser enviado à imprensa, afirmando que a empresa tem algumas ações de assistencialismo na comunidade, ou fazer anúncios com apelo social para que a corporação receba o título. Portanto, há pouca ou quase nenhuma aferição se a corporação que se diz responsável socialmente realmente tem essa postura.

Responsabilidade social é um todo e não apenas algumas ações. São políticas empresariais éticas e de respeito ao meio ambiente e ao ser humano, partindo de uma gestão coerente com estes valores, compromissada com o social e com ações direcionadas para todos os seus públicos de interesse e para o ambiente onde está inserida. Todos os setores da empresa devem estar imbuídos destes preceitos sociais, inclusive o financeiro. Não há como considerar uma empresa responsável socialmente apenas por ela fazer algumas doações de computadores para entidades carentes, por exemplo.

O envolvimento social tornou-se para as empresas um excelente recurso de marketing. Percebendo isso, muitas delas investem muito mais na divulgação de suas atividades de cunho social do que nas ações propriamente ditas e como resultado passam a ter uma imagem perante a opinião pública que não condiz com a realidade.

Para muitos, as corporações que praticam algumas ações sociais estão fazendo um favor ao governo, principalmente no que diz respeito às relacionadas à saúde e à educação, que são consideradas de inteira responsabilidade do Estado. Entretanto, é necessário se fazer uma análise dos impactos negativos que estas corporações causam à sociedade e ao meio ambiente, tais como poluição e utilização de mão-de-obra barata justificada pelo excedente. Há de se ponderar que determinadas ações classificadas como de “responsabilidade social” apenas estão tirando a atenção de outras de efeito prejudiciais à sociedade, mas que garantem maior lucratividade à corporação. Seria importante uma apuração maior do que apenas as informações que adquirimos na mídia sobre as empresas ditas responsáveis socialmente. Às vezes, ao acompanhar noticias da mesma empresa em editorias diferentes da imprensa já é possível ter mais conhecimento sobre as reais políticas de relacionamento que ela possui com a sociedade e com o ambiente.

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